sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Aquilo que estava subindo no seu pião era uma formiga?

Aquilo que estava subindo no seu pião era uma formiga. Paulinho parou o pião para observar melhor.
Ela subia, empenhada, pela superfície lisa do brinquedo. Mas aquela não era mesmo uma formiga qualquer. Não. Aquela era uma formiga diferente. Era uma formiga que queria viver uma nova experiência.
Formiga, você não quer voltar atrás? Você não quer voltar para os eu monte de terra e ficar ali fazendo buracos e túneis como um tatu? Ó, desculpe, não quis te assustar.
Paulinho sabia que os tatus eram grandes devoradores de formigas. Os tatus e os tamanduás. Falar assim na lata da formiga "TATU, TATU" não era uma boa maneira de se iniciar uma amizade.
Então, ele começou de novo: - Formiga, tem certeza que você não quer voltar para o seu monte de terra e continuar ali a roer plantas e levar comida para o seu mundo subterrâneo, dia após dia, e ser para sempre uma simples formiga que jamais viajou no tempo? Nós não sabemos o que pode acontecer, formiga, nunca fizemos isso antes. Podemos cometer algum erro científico inimaginável e transformar a humanidade numa raça de tatus gigantes de cinco metros de altura!
Não houve reação alguma da parte da formiga. Ela ia contornando uma área de lista amarela. Mas que formiga. Corajosa essa formiga. Depois não diga que eu não avisei.
E deu o impulso no pião, que recomeçou a girar devagar, emitindo notinhas musicais agudas e espaçadas.
Roda pião. A formiga roda. A formiga parece estar caindo num abismo profundo. Eu vejo as pernas da formiga voltadas para cima. A cabeça dela está voltada para baixo. Ela parece estar prensada dentro de uma placa de vidro. Ela se solta. O que é isto? Uma corcova de camelo?
Camelo ou dromedálio?
Um camelo tem duas corcovas ou uma apenas?
O que está em cima do camelo? Devagar piãozinho.
Um tuaregue caminha no deserto. Montado no camelo. o sol está ardente, o homem passa a mão na testa, ele leva alguma coisa atrás de si, no camelo. Um tapete. E lá está ela, a formiga. No tapete.
Qual será esse tempo?
O homem pára o camelo. O homem no deserto desce do camelo. Ele abre o tapete, não vê a formiga. Dirigi-se de novo para onde está o seu camelo. Pega na garupa uma mala, abre. O que ele vai fazer?
Ó, é a sua cesta de lanche, ele precisa para atravessar o deserto. Ele está comendo. São biscoitos! Ele abre um outro pano bordado. São tâmaras, eu sei que são tâmaras, eu já comi no Natal.
Nossa, como ele come as tais tâmaras. Come e joga um caroço para cá, outro para lá. É um tuaregue comedor de tâmaras.
Mas que tempo é esse?
Paulinho pensou que talvez pudesse perguntar diretamente. Encostou a boca bem perto do pião. Experimentou primeiro um alô.
O tuaregue olhou para os lados e começou a embrulhar tudo para ir embora. De onde teria vindo aquela voz?
Paulinho viu que dava certo, ia tentar de novo, mas o que ele falaria? O que que eu digo a esse homem? Ele lembrava de coisas assim nos filmes. Quando alguém conversa com alguém que não conhecia era sempre "Como vai, meu bom homem?". Então, ele disse: - Alô, meu bom homem. Que tempo é esse que você vive?
O bom homem caiu de joelhos na areia e gritou: - Alá, proteja-me dos demônios.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Foi no Natal?

Foi no Natal. Paulinho ganhou de presente um pião de metal colorido, desses que tocam música enquanto giram.
Paulinho, muito ansioso, pegou o pião e levou-o para o quintal. Apertou o pião para baixo e o pião girou. Paulinho ficou com o olhar perdido naquele rodopiar, afinal não era apenas um pião. Era mais que isso.
Ele já tinha visto aquilo algumas vezes, num daqueles filmes velhos. Aquilo era uma máquina do tempo. Como nos filmes, era preciso entrar na espiral, ir andando até o meio dela para se poder viajar no tempo.
Se o pião fosse grande, ele entraria nele e sairia no tempo do rei Artur ou no tempo de Cleópatra.
Ou, melhor ainda, no futuro, quando ele seria piloto de uma nave espacial que o levaria para outra galáxia, onde ele se encontraria com uma princesa de outro planeta.
A princesa seria linda e eles se casariam, embora ela fosse um tanto verde e com uma pedra na testa, como uma indiana, de onde saíam fachos de cor, de acordo com seus pensamentos e sentimentos.
Linda princesa, como seria o nome do teu planeta? Como seria o nome do teu país? Zyctos, Zora talvez.
Mesopotâmia sim era bonito, mas esse já existia, não podia.
O nome do planeta? Feldisfel, talvez. Não. Feldisfel é feio, melhor Marar. Isso! A princesa marítima do país Zyctos estava lá no futuro, mas Paulinho não podia ir naquele momento ao encontro dela, pois tinha um problema científico.
Para entrar naquela máquina do tempo em miniatura, ele teria que se miniaturizar, tornar-se menor do que era, talvez com pílulas de polegarina. Teria que se tornar pequeno, pequeno como uma... formiga?

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O primeiro

A ratinha contacontos lhes aparece pela primeira vez. Ela irá contar sobre o pião de metal colorido que Paulinho ganhou no Natal que era também uma máquina do tempo. E também contará sobre a valente formiga que escapava dos tatus famintos. E até mesmo sobre o capitão que chamava pelo maldito cozinheiro com suas hediondas batatas. Mas isto é assunto para uma próxima vez. Agora, deixe-me dormir. Afinal, minha máquina de contos precisa trabalhar.